domingo, 15 de novembro de 2015

O LIVRO DOS MÉDIUNS




 INTRODUÇÃO (1ªp.)



                                        BY BLOG MEDIUNIDADE COM NOSSO MESTRE JESUS                                        






 Introdução (1ª parte)°


  • do 1º ao 3º parágrafo.°
  • do 4º ao 7º parágrafo.
  • do 8º ao 11º parágrafo.


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Todos os dias a experiência nos traz a confirmação de que as dificuldades e os desenganos, com que muitos topam na prática do Espiritismo, se originam da ignorância dos princípios desta ciência e feliz nos sentimos de haver podido comprovar que o nosso trabalho, feito com o objetivo de precaver os adeptos contra os escolhos de um noviciado, produziu frutos e que à leitura desta obra devem muitos o terem logrado evitá-los.(A)

Natural é, que entre os que se ocupam com o Espiritismo, o desejo de poderem pôr-se em comunicação com os Espíritos. Esta obra se destina a lhes achanar o caminho, levando-os a tirar proveito dos nossos longos e laboriosos estudos, porquanto muito falsa idéia (sic!) formaria aquele que pensasse bastar, para se considerar perito nesta matéria, saber colocar os dedos sobre uma mesa, a fim de fazê-la mover-se, ou segurar um lápis, a fim de escrever.(B)

Enganar-se-ia igualmente quem supusesse encontrar nesta obra uma receita universal e infalível para formar médiuns. Se bem cada um traga em si o gérmen das qualidades necessárias para se tornar médium, tais qualidades existem em graus muito diferentes e o seu desenvolvimento depende de causas que a ninguém é dado conseguir se verifiquem à vontade. As regras da poesia, da pintura e da música não fazem que se tornem poetas, pintores, ou músicos os que não têm o gênio de alguma dessas artes. Apenas guiam os que as cultivam, no emprego de suas faculdades naturais. O mesmo sucede com o nosso trabalho. Seu objetivo consiste em indicar os meios de desenvolvimento da faculdade mediúnica, tanto quanto o permitam as disposições de cada um, e, sobretudo, dirigir-lhe o emprego de modo útil, quando ela exista. Esse, porém, não constitui o fim único a que nos propusemos.(C)




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A) As "dificuldades e desenganos" nas experiências mediúnicas de médiuns já existiam no tempo de Allan Kardec, as quais tanto pôde testemunhar, como também vir a saber sobre outros tantos médiuns! Sua alegria, sua satisfação íntima, em ter podido entregar um legado constituído de um livro resultante de pesquisas e estudos seríssimos sobre a relação entre o mundo físico e material pelo caminho da mediunidade foi-lhe muito grande, pois com esse legado os médiuns de então e os futuros médiuns poderiam se guiar melhor no caminho da prática mediúnica. À partir desse livro os médiuns, portanto, poderiam passar a ter acesso aos conhecimentos levantados por Allan Kardec, sim, levantados, pois foram esses conhecimentos codificados, ou seja, registrados por escrito do que já existia, e que ninguém tinha conhecimento até então de forma científica e minuciosa, por meio das revelações explicativas feitas por comunicação dos Espíritos Superiores. Entretanto a preocupação dele quanto ao legado que ele deixava à todos que viviam a realidade da mediunidade era a de que quanto aos médiuns desiludidos se não buscassem ter interesse nesse maravilhoso livro corriam o risco de trazer no íntimo as desilusões ali impressas para toda a vida, resultando em abandonar o exercício da mediunidade com o objetivo de buscar outras realizações no campo de um novo "noviciado"*. 

Sim, novo noviciado porque o campo do exercício mediúnico é já o exercício de doação de si mesmo no caminho do bem com Jesus, é uma forma de viver a religiosidade que há dentro de si, um noviciamento. No tempo de Kardec as pessoas dotadas de mediunidade com certeza professavam uma fé religiosa independentemente do exercício mediúnico. Sendo ou não religiosos praticantes, essa raiz religiosa de família de cada um lhes propiciava o desenvolvimento de uma religiosidade tão única quanto eram as faculdades mediúnicas que possuíam, essa religiosidade que os guiava nas reuniões mediúnicas. E quais eram as religiões que existiam na época de Allan Kardec, o catolicismo e as religiões protestantes, a Doutrina Espírita ainda não existia como opção religiosa, pois ainda estava em pleno curso a sua formação, o que só mais tarde é que veio a ser codificada pelo próprio Allan Kardec. Diante dessa realidade já existente, a do mediunato, Kardec apontou um outro extremo, a da situação real de médiuns atuantes desertores, alertando que abandonar por desilusões é um grande erro, e no caso de abandonar o caminho do mediunato constitui-se aí uma porta aberta para a intenção de buscar outro "noviciado", buscando apenas o seguimento da religião que professa, e buscando enfim viver a vida cotidiana normalmente sem o exercício mediúnico. Preocupado principalmente com esse segundo grupo de médiuns, os médiuns desertores, é que Kardec não deixou de alertar nessas poucas linhas sobre isso na introdução de "O Livro dos Médiuns".

Bom perceber que Kardec fala em "prática do Espiritismo" no primeiro e segundo parágrafos. Ao falar assim ele nos permite entender que se trata do exercício da mediunidade, que é a relação comunicativa entre o médium e os Espíritos em uma reunião mediúnica, sendo então também este um outro significado empregado para o uso da palavra "Espiritismo", criada por Kardec, é um significado voltado para esse caso específico de relação entre o mundo material e o mundo espiritual, ou seja, a relação mediúnica.

O Espiritismo é, como diz Allan Kardec ainda no primeiro parágrafo, uma ciência, e portanto precisa ser conhecida, a falta desse conhecimento é a falta dessa ciência, a ciência dos fatos espirituais. Então aqui ele nos dá uma visão mais ampla de significação sobre o que é o Espiritismo: que não é simplesmente a comunicação entre médiuns e Espíritos, mas sim a co-existência entre o mundo material e espiritual em que os Espíritos se comunicam com o mundo físico, com as pessoas, e não somente com médiuns. Uma relação em que, também, a vida de um mundo humano, o material, depende da vida do outro mundo humano, o espiritual, e vice-versa, uma dependência recíproca.

B) Afirma Allan Kardec que é muito natural que pessoas que tenham dons mediúnicos queiram se comunicar com os Espíritos. Com isso Kardec apresenta e oferece "O Livro dos Médiuns" como um livro de orientação mediúnica ao qual os médiuns podem se reportar e fazer uso adequado para a prática mediúnica. Pois, como diz Kardec, a prática mediúnica não significa apenas saber os procedimentos mediúnicos para se obter comunicações do Além e praticá-los, já que a prática mediúnica realizada apenas por experiência empírica já não se fazia mais necessário, não basta por si mesma uma vez que todo um estudo científico, resultando em conhecimentos precisos sobre o assunto já havia sido realizado por Kardec. 

C) Constatado em sua época por Kardec a existência da mediunidade nas pessoas, ele constatou também que cada pessoa tem faculdades mediúnicas únicas mesmo em se tratando de uma mesma categoria de mediunidade, por esse motivo é que ele disse que cada um tem o gérmen de uma mediunidade a ser desenvolvida, por isso nenhuma mediunidade é igual a outra. Enquanto a identificação das mais diversas formas de mediunidade foi possível ser concretizada em suas pesquisas e estudos científicos o mesmo não se deu com relação as causas do desenvolvimento mediúnico de cada pessoa, pois trata-se de um fator mais íntimo, intrínseco do médium, como diz Kardec. Hoje em dia, pois, temos já a resposta para essa questão, que nos foi permitida pelo Alto**, que é o conhecimento da glândula pineal, o que naquela época para Kardec não teria como saber a menos que os Benfeitores Espirituais revelassem, bem como o planejamento da vida reencarnatória daquele que vai ser médium no qual se define o tipo específico próprio e único de mediunidade que essa pessoa terá que ter, então temos dois fatores a princípio: a pineal**, e o plano reencarnatório***

Allan Kardec não tinha pretensão de fazer do livro que ele escreveu perante os olhos alheios um manual a ser seguido, bem como não queria que as pessoas gratuitamente debruçassem seus olhares com este pensamento sobre o livro voltado aos médiuns. Certamente essa preocupação poderia estar ligada ao entendimento de que cada pessoa é capaz de utilizar o livro de forma crítica, e procurando de maneira lúcida e com a necessária criação laboriosa intelectual, reflexiva, aplicar os conhecimentos reunidos no livro à realidade mediúnica em vivência e em pleno curso, estabelecendo também observâncias e respostas críticas por si mesmos a cada experiência dessa realidade, assim, não aplicando os conhecimentos contidos nesse livro, portanto de forma irreflexiva, cega, assim como muito ocorre quanto ao uso da Bíblia, por exemplo. 

Com certeza hoje em dia essa postura crítica reflexiva é um objetivo atingido nas casas espíritas, embora ainda assim tem-se que se ater ao que tem sido a prática mediúnica  de cada grupo mediúnico, se os grupos mediúnicos estão de fato seguindo corretamente o roteiro (roteiro prático, classificativo e moral contido em "O Livro dos Médiuns") mostrado por Kardec. Mas seja como for, supondo alguns grupos estarem seguindo apenas de forma empírica, não estão se dando  conta disso, pois no caso da prática empírica pensam estar seguindo os ensinamentos de "O Livro dos Médiuns" por dois motivos: só porque o livro existe, e fizeram seus membros o curso preparatório para médiuns, quando apenas praticam o exercício mediúnico pela experiência adquirida, ou seja, pelo empirismo, por isso é necessário que os grupos mediúnicos revejam suas práticas, e essa situação vai longe, porque os grupos mediúnicos realizam leituras de estudo evangélico que antecedem o trabalho propriamente, e há grupos que estudam sobre a mediunidade também antes do mediúnico, e nessas situações todas de estudos é que se encontra a mesma armadilha, a de acharem que estão sim estudando e estão mais atentos aos ensinamentos de Allan Kardec e dos Espíritos Superiores quanto a prática mediúnica, o que os grupos precisam ver mesmo é como tem sido a prática mediúnica, começar a perceber como tem sido essa prática do grupo todo, e não deste e daquele médium, e aí então estará a aplicação do que estão estudando todo esse tempo, isso é o que fará a diferença no mediunato de cada grupo mediúnico, e perceberão que muito deverá ser modificado para melhor, sem marcar médium algum, mas sim objetivando a harmonia. 

Apesar da existência desse maravilhoso livro, claro sim que todos os grupos mediúnicos  estão seguindo o máximo bem possível, o que muito responde as expectativas de Allan Kardec quanto aos seus contemporâneos de época, e aos contemporâneos dos dias de hoje, porque pelo menos os médiuns de hoje estão de fato tendo conhecimento do conteúdo desse livro, e se preparando para o exercício mediúnico sempre. Kardec pretendia que o livro fosse visto como de grande utilidade por todos os médiuns, bem como sua aplicação nas casas espíritas por possibilitar-lhes esclarecimentos necessários a fim de que não dependessem apenas das experiências empíricas, e também evitasse a deserção mediúnica. E esse objetivo por Allan Kardec foi alcançado, sendo-lhe a sua maior recompensa, o que ele tanto esperançava. Só falta agora que, por mais que se esforcem para aplicar esses ensinamentos os grupos mediúnicos de fato passem ao nível da observação de suas próprias práticas em grupo, porque todos nós, de tanto estudarmos a Doutrina Espírita, temos um pouco de "doutos", cada um em seu grau de conhecimento doutrinário, ou seja, todos tem já o conhecimento, não importa o quanto, só falta a observação, o que, se prestarmos bem a atenção em "O Livro dos Médiuns", Kardec também aponta para essa necessidade do mediunato coletivo,  ou seja, dos grupos mediúnicos, em grande parte do conteúdo da obra. 



Heliana Staut


Ao usar o conteúdo do presente texto e das notas de rodapé respeite os direitos autorias deste blog,
e das fontes citadas.


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* Noviciado:

É um substantivo masculino.



1. rel estado de noviço, condição de quem entra em determinada ordem religiosa para professar.
2. rel período de aprendizagem e de provação a que se submetem aqueles que desejam professar uma religião.
3. Tempo de provação a que estão sujeitos os noviços, antes dos votos.
4. Conventos ou locais em que habitam os noviços.
5. Figurativo: aprendizagem em geral.




** Vídeo do dr. Sérgio Felipe de Oliveira:



A Glândula Pineal - Dr. Sérgio Felipe de Oliveira





Há já uma série de vídeos de palestras e aulas do dr. Sérgio Felipe de Oliveira sobre o assunto da pineal e sobre mediunidade, e sobre outros temas da Doutrina Espírita.





Sobre o dr. Sérgio Felipe de Oliveira:




http://pt.scribd.com/doc/75945612/Dossie-Sergio-Felipe-de-Oliveira#scribd



Dr. Sérgio Felipe de Oliveira é fundador e idealizador da UNIESPÍRITO - Universidade Internacional de Ciências do Espírito:









Heliana Staut



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1. Em algumas obras da série André Luiz há referências à glândula pineal, no caso abaixo, a transcrição de parte da obra "Missionários da Luz":




2
A epífise





Enquanto o nosso companheiro se aproveitava da organização mediúnica, vali-me das forças magnéticas que o instrutor me fornecera, para fixar a máxima atenção no médium. Quanto mais lhe notava as singularidades do cérebro, mais admirava a luz crescente que a epífise deixava perceber. A glândula minúscula transformara-se em núcleo radiante e, em derredor, seus raios formavam um lótus de pétalas sublimes. 

Examinei atentamente os demais encarnados. Em todos eles, a glândula apresentava notas de luminosidade, mas em nenhum brilhava como no intermediário em serviço. 

Sobre o núcleo, semelhante agora a flor resplandecente, caía luzes suaves, de Mais Alto, reconhecendo eu que ali se encontravam em jogo vibrações delicadíssimas, imperceptíveis para mim. 

Estudara a função da epífise nos meus apagados serviços de médico terrestre. Segundo os orientadores clássicos, circunscreviam-se suas atribuições ao controle sexual no período infantil. Não passava de velador dos instintos, até que as rodas da experiência sexual pudessem deslizar com regularidade, pelos caminhos da vida humana. Depois, decrescia em força, relaxava-se, quase desaparecia, para que as glândulas genitais a sucedessem no campo da energia plena. 

Minhas observações, ali, entretanto, contrastavam com as definições dos círculos oficiais. 

Como o recurso de quem ignora é esperar pelo conhecimento alheio, aguardei Alexandre para elucidar-me, findo o serviço ativo. 

Passados alguns minutos, o generoso mentor acercava-se de mim. 

Não esperou que me explicasse. 

- Conheço-lhe a perplexidade - falou. Também passei pela mesma surpresa, noutro tempo. A epífise é agora uma revelação para você. 
- Sem dúvida - acrescentei. 
- Não se trata de órgão morto, segundo velhas suposições - prosseguiu ele. - É a glândula da vida mental. Ela acorda no organismo do homem, na puberdade, as forças criadoras e, em seguida, continua a funcionar, como o mais avançado laboratório de elementos psíquicos da criatura terrestre. O neurologista comum não a conhece bem. O psiquiatra devassar-lhe-á, mais tarde, os segredos. Os psicólogos vulgares ignoram-na. Freud interpretou-lhe o desvio, quando exagerou a influenciação da «libido», no estudo da indisciplina congênita da Humanidade. Enquanto no período do desenvolvimento infantil, fase de reajustamento desse centro importante do corpo perispiritual preexistente, a epífise parece constituir o freio às manifestações do sexo; entretanto, há que retificar observações. 

Aos catorze anos, aproximadamente, de posição estacionária, quanto às suas atribuições essenciais, recomeça a funcionar no homem reencarnado. O que representava controle é fonte criadora e válvula de escapamento. A glândula pineal reajusta-se ao concerto orgânico e reabre seus mundos maravilhosos de sensações e impressões na esfera emocional. Entrega-se a criatura à recapitulação da sexualidade, examina o inventário de suas paixões vividas noutra época, que reaparecem sob fortes impulsos. 

Achava-me profundamente surpreendido. 

Findo o intervalo que impusera à exposição do ensinamento, Alexandre continuou: 

- Ela preside aos fenômenos nervosos da emotividade, como órgão de elevada expressão no corpo etéreo. Desata, de certo modo, os laços divinos da Natureza, os quais ligam as existências umas às outras, na seqüência (sic!) de lutas, pelo aprimoramento da alma, e deixa entrever a grandeza das faculdades criadoras de que a criatura se acha investida. 
- Deus meu! - exclamei - e as glândulas genitais, onde ficam? 

O instrutor sorriu e esclareceu: 

- São demasiadamente mecânicas, para guardarem os princípios sutis e quase imponderáveis da geração. Acham-se absolutamente controladas pelo potencial magnético de que a epífise é a fonte fundamental. As glândulas genitais segregam os hormônios do sexo, mas a glândula pineal, se me posso exprimir assim, segrega «hormônios psíquicos» ou «unidades-força» que vão atuar, de maneira positiva, nas energias geradoras. Os cromossomos da bolsa seminal não lhe escapam a influenciação absoluta e determinada. 

Alexandre fez um gesto significativo e considerou: 

- No entanto, não estamos examinando problemas de embriologia. Limitemo-nos ao assunto inicial e analisemos a epífise, como glândula da vida espiritual do homem. 

Dentro de meu espanto, guardei rigoroso silêncio, faminto de instruções novas.

- Segregando delicadas energias psíquicas -prosseguiu ele -, a glândula pineal conserva ascendência em todo o sistema endocrínico. Ligada à mente, através de princípios eletromagnéticos do campo vital, que a ciência comum ainda não pode identificar, comanda as forças subconscientes sob a determinação direta da vontade. As redes nervosas constituem-lhe os fios telegráficos para ordens imediatas a todos os departamentos celulares, e sob sua direção efetuam-se os suprimentos de energias psíquicas a todos os armazéns autônomos dos órgãos. Manancial criador dos mais importantes, suas atribuições são extensas e fundamentais. Na qualidade de controladora do mundo emotivo, sua posição na experiência sexual é básica e absoluta. De modo geral, todos nós, agora ou no pretérito, viciamos esse foco sagrado de forças criadoras, transformando-o num imã relaxado, entre as sensações inferiores de natureza animal. Quantas existências temos despendido na canalização de nossas possibilidades espirituais para os campos mais baixos do prazer materialista? Lamentavelmente divorciados da lei do uso, abraçamos os desregramentos emocionais, e daí, meu caro amigo, a nossa multimilenária viciação das energias geradoras, carregados de compromissos morais, com todos aqueles a quem ferimos com os nossos desvarios e irreflexões. Do lastimável menosprezo a esse potencial sagrado, decorrem os dolorosos fenômenos da hereditariedade fisiológica, que deveria constituir, invariavelmente, um quadro de aquisições abençoadas e puras. A perversão do nosso plano mental consciente, em qualquer sentido da evolução, determina a perversão de nosso psiquismo inconsciente, encarregado da execução dos desejos e ordenações mais íntimas, na esfera das operações automáticas. À vontade desequilibrada desregula o foco de nossas possibilidades criadoras. Daí procede a necessidade de regras morais para quem, de fato, se interesse pelas aquisições eternas nos domínios do Espírito. Renúncia, abnegação, continência sexual e disciplina emotiva não representam meros preceitos de feição religiosa. São providências de teor científico, para enriquecimento efetivo da personalidade. Nunca fugiremos à lei, cujos artigos e parágrafos do Supremo Legislador abrangem o Universo. Ninguém enganará a Natureza. Centros vitais desequilibrados obrigarão a alma à permanência nas situações de desequilíbrio. Não adianta alcançar a morte física, exibindo gestos e palavras convencionais, se o homem não cogitou do burilamento próprio. A Justiça que rege a Vida Eterna jamais se inclinou. É certo que os sentimentos profundos do extremo instante do Espírito encarnado cooperam decisivamente nas atividades de regeneração além do túmulo, mas não representam a realização precisa. 

O instrutor falava em tom sublime, pelo menos para mim, que, pela primeira vez, ouvia comentários sobre consciência, virtude e santificação, dentro de conceitos estritamente lógicos e científicos no campo da razão. 

Agora, aclaravam-se-me os raciocínios, de modo franco. Receber um corpo, nas concessões do reencarnacionismo, não é ganhar um barco para nova aventura, ao acaso das circunstâncias, mas significa responsabilidade definida nos serviços de aprendizagem, elevação ou reparação, nos esforços evolutivos ou redentores. 

- Compreende, agora, as funções da epífise no crescimento mental do homem e no enriquecimento dos valores da alma? - indagou-me o orientador. 
- Sim... - respondi sob impressão forte. 
- Segregando «unidades-força» - continuou -, pode ser comparada a poderosa usina, que deve ser aproveitada e controlada, no serviço de iluminação, refinamento e benefício da personalidade e não relaxada em gasto excessivo do suprimento psíquico, nas emoções de baixa classe. Refocilar-se no charco das sensações inferiores, à maneira dos suínos, é retê-la nas correntes tóxicas dos desvarios de natureza animal, e, na despesa excessiva de energias sutis, muito dificilmente consegue o homem levantar-se do mergulho terrível nas sombras, mergulho que se prolonga, além da morte corporal. Em vista disso, é indispensável cuidar atentamente da economia de forças, em todo serviço honesto de desenvolvimento das faculdades superiores. Os materialistas da razão pura, senhores de vastos patrimônios intelectuais, perceberam de longe semelhantes realidades e, no sentido de preservar a juventude, a plástica e a eugenia, fomentaram a prática do esporte, em todas as suas modalidades. Contra os perigos possíveis, na excessiva acumulação de forças nervosas, como são chamadas às secreções elétricas da epífise, aconselharam aos moços de todos os países o uso do remo, da bola, do salto, da barra, das corridas a pé. Desse modo, preservavam-se os valores orgânicos, legítimos e normais, para as funções da hereditariedade. A medida, embora satisfaça em parte, é, contudo, incompleta e defeituosa. Incontestavelmente, a ginástica e o exercício controlados são fatores valiosos de saúde; a competição esportiva honesta é fundamento precioso de socialização; no entanto, podem circunscrever-se a meras providências, em benefício dos ossos, e, por vezes, degenera-se em elástico das paixões menos dignas. São muito raros ainda, na Terra, os que reconhecem a necessidade de preservação das energias psíquicas para engrandecimento do Espírito eterno. O homem vive esquecido de que Jesus ensinou a virtude como esporte da alma, e nem sempre se recorda de que, no problema do aprimoramento interior, não se trata de retificar a sombra da substância e sim a substância em si mesma. 

Ouvia-lhe as instruções, entre a emotividade e o assombro. 

- Entende, agora, como é importante renunciar? Percebe a grandeza da lei de elevação pelo sacrifício? A sangria estimula a produção de células vitais, na medula óssea; a poda oferece beleza, novidade e abundância nas árvores. O homem que pratica verdadeiramente o bem vive no seio de vibrações construtivas e santificantes da gratidão, da felicidade, da alegria. Não é fazer teoria de esperança. É princípio científico, sem cuja aplicação, na esfera comum, não se liberta a alma, descentralizada pela viciação nas zonas mais baixas da Natureza. 

E porque observasse que as instruções lhe tomavam demasiado tempo, Alexandre concluiu: 

- De acordo com as nossas observações, a função da epífise na vida mental é muito importante. 
- Sim - considerei -, compreendo agora a substancialidade de sua influenciação no sexo e entendo igualmente a dolorosa e longa tragédia sexual da Humanidade. Percebo, nitidamente, o porquê dos dramas que se sucedem, ininterruptos, as aflições que parecem nunca chegar ao fim, as ansiedades que esbarram no crime, o cipoal do sofrimento, envolvendo lares e corações... 
- E o homem sempre disposto a viciar os centros sagrados de sua personalidade - concluiu Alexandre, solenemente -, sempre inclinado a contrair novos débitos, mas dificilmente decidido a retificar ou pagar. 
- Compreendo, compreendo... 

E, asilando certas dúvidas, exclamei: 

- Não seria então mais razoável... 

O orientador cortou-me a palavra e esclareceu: 

- Já sei o que deseja indagar. 

E, sorrindo: 

- Você pergunta se não seria mais interessante encerrar todas as experiências do sexo, sepultar as possibilidades do renascimento carnal. Semelhante indagação, no entanto, é improcedente. Ninguém deve agir contra a lei. O uso respeitável dos patrimônios da vida, a união enobrecedora, a aproximação digna, constituem o programa de elevação. É, portanto, indispensável distinguir entre harmonia e desequilíbrio, evitando o estacionamento em desfiladeiros fatais. 

Ditas estas palavras, Alexandre calou-se, como orientador criterioso que deixa ao discípulo o tempo necessário para digerir a lição.





2. Sobre o plano reencarnatório na obra de André Luiz, também, em "Missionários da Luz":




12
Preparação de experiências



(...)


Compreendera claramente onde Alexandre pretendia chegar com os seus esclarecimentos amigos. 

- É para a regulamentação de semelhantes serviços que funciona em nossa colônia espiritual, por exemplo, o Planejamento de Reencarnações; onde você terá ocasião de recolher ensinamentos preciosos. 

E, atendendo-me às necessidades como pai afetuoso, apresentou-me o instrutor, no dia imediato, à imponente instituição. 

Constituía-se o movimentado centro de serviço de vários prédios e numerosas instalações. Árvores acolhedoras enfileiravam-se através de extensos jardins, imprimindo encantador aspecto à paisagem. Reconheci logo que o instituto se caracterizava por grande movimento. Entidades insuladas ou em pequenos grupos iam e vinham, estampando atencioso interesse na expressão fisionômica. Pareciam sumamente despreocupadas de nossa presença ali, porque, quando não passavam sozinhas, ao nosso lado, engolfadas em profundos pensamentos, iam em grupos afetuosos, alimentando discretas conversações, multo graves e absorventes, ao que me parecia. Muitos desses irmãos, que passavam junto de nós, empunhavam reduzidos rolos de substância semelhante ao pergaminho terrestre, relativamente aos quais não possuía eu, até então, a mais leve notícia. 

Alexandre, porém, como sempre, veio em socorro de minha estranheza, explicando, bondosamente: 

- As entidades sob nossos olhos são trabalhadores de nossa esfera, interessados em reencarnações próximas. Nem todos estão diretamente ligados ao semelhante propósito, porque grande parte está em trabalho de intercessão, obtendo favores dessa natureza para amigos íntimos. Os rolos brancos que conduzem são pequenos mapas de formas orgânicas, elaborados por orientadores de nosso plano, especializados em conhecimentos biológicos da existência terrena. Conforme o grau de adiantamento do futuro reencarnante e de acordo com o serviço que lhe é designado no corpo carnal, é necessário estabelecer planos adequados aos fins essenciais. 
- E a lei da hereditariedade fisiológica? perguntei. 
- Funciona com inalienável domínio sobre todos os seres em evolução, mas sofre, naturalmente, a influência de todos aqueles que alcançam qualidades superiores ao ambiente geral. Além do mais, quando o interessado em experiências novas no plano da Crosta é merecedor de serviços «intercessórios», as forças mais elevadas podem imprimir certas modificações à matéria, desde as atividades embriológicas, determinando alterações favoráveis ao trabalho de redenção. 

A essa altura da palestra esclarecedora, Alexandre convidou-me a transpor o limiar. 

Achamo-nos, em breve, num dos gabinetes extensos do edifício principal, aonde um dos numerosos amigos do orientador veio atender-nos atenciosamente. 

Apresentou-me Alexandre ao Assistente Josino, que me recebeu com extrema gentileza e fidalguia de trato. Esclareceu o instrutor o objetivo de nossa visita. Desejava me fosse conferida a possibilidade de visitar a instituição de planejamento, quantas vezes me fosse possível durante a semana em curso, em vista da minha necessidade de adquirir noções seguras, referentemente ao trabalho de auxílio nas atividades reencarnacionistas. O Assistente prometeu a melhor boa vontade. Conduzir-me-ia a colegas dele, para que me não faltassem minúcias de conhecimento, exporia suas próprias experiências à minha observação, para que eu retirasse delas o máximo proveito e, por fim, quanto estivesse ao seu alcance, guiaria meus impulsos no aprendizado. 

Felicitavam-me o íntimo as melhores e mais confortadoras impressões, não só pela recepção carinhosa, senão também pelo ambiente educativo. Não longe de nós, em luminosos pedestais, descansavam duas maravilhas da estatuária, a figuração delicada de um corpo masculino e outro modelo feminino, singularmente belo pela perfeição anatômica, não somente da forma em si, mas também de todos os órgãos e as mais diversas glândulas. Através de disposições elétricas, ambas as Figurações palpitavam de vida e calor, exibindo eflúvios luminosos, quais os homens e mulheres mais evolvidos na esfera carnal. 

Identificando-me a admiração, Alexandre sorriu e disse ao Assistente Josino, com o propósito de fazer-se ouvido por mim: 

- Talvez André não conheça bastante o nosso respeito e gratidão ao aparelho físico terrestre. 
- Em verdade - ajuntei - ignorava, até agora, que o corpo carnal fosse, entre nós, objeto de tamanhos cuidados. Não sabia que a nossa colônia contasse com instituição desse teor. 
- Como não, meu amigo? - interferiu o Assistente, com inflexão de carinho - o corpo físico na Crosta Planetária representa uma bênção de Nosso Eterno Pai. Constitui primorosa obra da Sabedoria Divina, em cujo aperfeiçoamento incessante temos nós a felicidade de colaborar. Quanto devemos à máquina humana pelos seus milênios de serviço a favor de nossa elevação na vida eterna? Nunca relacionaremos a extensão de semelhante débito. 

E, fixando os modelos que me provocavam assombro, acentuou: 

- Todo o nosso zelo, no serviço de reencarnação, permanece muito aquém do quanto deveríamos realizar em benefício do aprimoramento da máquina orgânica. 

Embora hesitante, ousei perguntar: 

- Todos os núcleos de espiritualidade superior mantêm círculos de trabalho dessa natureza? 

Foi Alexandre quem respondeu, com a delicadeza habitual: 

- Em todas as colônias de expressão elevada, essas tarefas são desempenhadas com infinito carinho. O auxílio à reencarnação de companheiros nossos traduz o nosso reconhecimento ao aparelho físico que nos tem proporcionado tantos benefícios; através do tempo. 

Recordei, porém, que o meu pai terrestre (1) (Sic!), um dia, voltara à experiência carnal, procedendo das zonas francamente inferiores, e indaguei: 

- E aqueles que regressam à Crosta, partindo das regiões mais baixas, terão o mesmo generoso auxílio? 

Desejando imprimir à pergunta a mais viva sinceridade, acrescentei: 

- Meu genitor, na derradeira romagem terrestre, voltou, faz algum tempo, à esfera carnal em condições bem amargas... 

Alexandre interrompeu-me o curso da frase, ponderando: 

- Compreendemos. Se for ele criatura de razão esclarecida, embora não iluminada, permanecia após a morte em estado de queda e não deve ter voltado à bendita oportunidade da escola física sem o trabalho «intercessório» e forte ajuda de corações bem-amados de nosso plano. Nesse caso, terá recebido a cooperação de benfeitores, situados em posições mais altas, que lhe terão endossado as promessas no serviço regenerador. Se ele foi, porém, criatura em esforço puramente evolutivo, circunstância essa na qual não teria regressado em condições amargurosas, contou ele naturalmente com o abençoado concurso dos trabalhadores espirituais que velam, na Crosta, pela execução dos trabalhos reencarnacionistas, em processos naturais. 

Em face dos esclarecimentos do instrutor, entendi as diferenças e tranqüilizei (sic!) o coração. 

Fosse porque a palestra escalpelara melindroso assunto de família humana, fosse pelo propósito de me deixarem a sós com as minhas profundas reflexões naquele extenso gabinete de serviço, o orientador e o assistente entraram em silêncio, compelindo-me a rebuscar novos motivos de conversação para o meu aprendizado. 

Passei então a observar detidamente os modelos masculino e feminino, não longe de meus olhos. 

Muito gentil Josino pousou a destra, de leve, nos meus ombros, e falou-me: 

- Aproxime-se das criações educativas. Você lucrará muito, observando de perto. 

Não contive um gesto de agradecimento e afastei-me dos dois respeitáveis amigos, acercando-me das figurações ali expostas. Detive-me na contemplação do molde masculino, que apresentava absoluta harmonia de linhas, qual arte helênica de sabor antigo. 

O modelo, estruturado em substância luminosa, constituía, a meu parecer, a mais primorosa obra anatômica até então sob minha análise. Semelhava-se aquela figura humana, imóvel, a qualquer coisa divinal. 

Fixei-lhe as minuciosidades com espanto. Nunca vira semelhante perfeição de minudências fisiológicas. Toda a musculatura estava, ali, formada em fibras radiosas. Desde o frontal ao ligamento anular do tarso, viam-se fios de luz simbolizando as regiões diversas da musculatura em geral. Determinadas fibras, todavia, como as que se localizavam na zona orbicular das pálpebras, no triangular dos lábios, no grande peitoral, no pectíneo, nas eminências tenar e hipotênar até o extensor dos dedos, eram mais brilhantes. Do exame de superfície, passei a observações mais profundas, identificando as disposições maravilhosas das figuras representativas da circulação linfática e sanguínea. Oh! Os órgãos estavam todos ali, vibrando em obediência a dispositivos elétricos para demonstrações educativas. Os vasos para o sangue venoso apresentavam-se em luz acinzentada, ao passo que as regiões do sangue arterial figuravam-se em cor encarnada. 

Surpreendido, rendi silencioso preito de admiração à Sabedoria Divina, que nos concede o sublime aparelho físico terrestre para as nossas aquisições eternas. 

Impressionava-me a composição perfeita dos vasos distribuídos em torno do tronco celíaco, à maneira de pequenos rios de luz, destacando-se em expressão a luminosidade das cavas superior e inferior, das jugulares externa e interna, das artérias e veias axilares, da veia porta, das artérias esplênica e mesentérica superior, da aorta descendente, dos vasos ilíacos e dos gânglios da virilha. 

Cobrindo as maravilhas orgânicas, estava o sistema nervoso, semelhando-se a capa radiante estruturada em fios tenuíssimos de luz feérica. A região do cérebro parecia uma lâmpada em azul suavíssimo, cuja luminosidade se ligava em sentido direto ao cerebelo, descendo em seguida pela medula espinhal até o plexo sagrado, onde o foco brilhante adquiria expressão mais intensa, para atenuar-se, depois, no grande ciático. 

Transferi minhas observações para a forma feminina, igualmente radiosa, concentrando meu potencial analítico sobre o sistema endocrínico, disposto à maneira de constelação, entre as peças orgânicas. Desde a epífise, situada entre os hemisférios cerebrais, até os núcleos procriadores, as glândulas pareciam formar belo sistema luminoso, semelhante a pequenos astros de vida, congregados em sentido vertical, qual antena rútila atraindo a luz procedente de Mais Alto. Cada qual apresentava sua forma específica, suas expressões vibratórias, suas características particulares, diversificando-se, igualmente, a cor de cada uma, embora recebessem todas, a seu modo, a coloração da epífise, semelhante a pequenino sol azulado, mantendo em seu campo de atração magnética todas as demais, desde a hipófise à região dos ovários, como o nosso astro de vida, garantindo a coesão e o movimento da sua grande família de planetas e asteróides (sic!)

Minha estupefação não tinha limites. 

É forçoso confessar, porém, que minha surpresa se distendia muito mais, ao fixar os eflúvios brilhantes que emanavam dos centros genitais, semelhando-se, em conjunto, a minúsculo santuário cheio de luz. 

Como eu dirigisse ao meu instrutor um olhar de indagação, seus esclarecimentos não se fizeram esperar. 

- Na Crosta - disse-me Alexandre, sorrindo, após reaproximar-se de mim -, em sentido geral ainda existe muita ignorância acerca da missão divina do sexo. Para nós, porém, que desejamos valorizar as experiências, a paternidade e a maternidade terrestres são sagradas. A faculdade criadora é também divindade do homem. O útero maternal significa, para nós outros, a porta bendita para a redenção; para grande número de pessoas na Esfera do Globo, a visão celestial é símbolo de repouso e alegria sem fim, enquanto, para muitos de nós, a visão terrestre significa trabalho edificante e salutar. Não alcançaremos, porém, a terra prometida do serviço redentor, sem o concurso das forças criadoras associadas, do homem e da mulher. 

Compreendi, com novo espírito, o caráter sublime das energias sexuais e recordei-me, compadecidamente, de todos os encarnados que ainda não conseguiram edificar o respeito e o entendimento, relativos aos sagrados órgãos procriadores. Meu orientador, entretanto, como antena receptora de todas as minhas emissões mentais, advertiu-me, bondoso: 

- Relegue ao esquecimento qualquer expressão das reminiscências menos construtivas. Os que ultrajam o sexo, escrevendo, agindo ou falando, já são grandes infelizes por si mesmos. 

Guardei a lição e abençoei a nova experiência que começava. 

Despediu-se Alexandre, deixando-me na grande instituição de planejamento, onde o Assistente Josino, ocupado nos encargos de seu ministério, me confiou aos cuidados de Manassés, um irmão dos serviços informativos da casa, que me acolheu prazerosamente, cercando-me de gentileza e carinho. 

Senti imediatamente que o meu aprendizado ali se iniciava com imenso proveito. Manassés era um livro volante. Seus pareceres e informes traduziam valiosos ensinamentos. 

Aproximando-nos dos pavilhões de desenho, onde numerosos cooperadores traçavam planos para reencarnações incomuns, foi o meu novo companheiro procurado por uma entidade simpática que lhe pedia informações. Manassés apresentou-ma, otimista. Tratava-se dum colega que, depois de quinze anos de trabalho nas atividades de auxílio, regressaria à esfera carnal para a liquidação de determinadas contas. O recém-chegado parecia hesitante. Via-se-lhe o receio, a indecisão. 

- Não se deixe dominar pelas impressões negativas - dirigia-se Manassés a ele, infundindo-lhe bom ânimo. - O problema do renascimento não é assim tão intrincado. Naturalmente, exige coragem, boas disposições. 
- Entretanto - exclamava o interlocutor, algo triste -, temo contrair novos débitos ao invés de pagar os velhos compromissos. É tão penoso vencer na experiência carnal, em vista do esquecimento que sobrevém à encarnação... 
- Mas seria muito mais difícil triunfar guardando a lembrança - redargüiu (sic!) Manassés, incontinenti. 

Prosseguindo, sorridente, acrescentou: 

- Se tivéssemos grandes virtudes e belas realizações, não precisaríamos recapitular as lições já vividas na carne. E se apenas possuímos chagas e desvios para rememorar, abençoemos o olvido que o Senhor nos concede em caráter temporário. 

Esforçou-se o outro para esboçar um sorriso e objetou: 

- Conheço-lhe o otimismo; quisera ser igualmente assim. Voltarei confiante no concurso fraterno de vocês. 

E modificando o tom de voz, indagou: 

- Pode informar se o meu modelo está pronto? 
- Creio que poderá procurá-lo amanhã - tornou Manassés, bem disposto -; já fui observar o gráfico inicial e dou-lhe parabéns por haver aceitado a sugestão amorosa dos amigos bem orientados, sobre o defeito da perna. Certamente, lutará você com grandes dificuldades nos princípios da nova luta, mas a resolução lhe fará grande bem. 
- Sim - disse o outro, algo confortado -, preciso defender-me contra certas tentações de minha natureza inferior e a perna doente me auxiliará, ministrando-me boas preocupações. Ser-me-á um antídoto à vaidade, uma sentinela contra a devastação do amor-próprio excessivo. 
- Muito bem! - respondeu Manassés, francamente otimista. 
- E pode informar-me ainda a média de tempo conferida à minha forma física futura? 
- Setenta anos, no mínimo - redargüiu meu novo companheiro, contente. 

O outro fixou uma expressão de reconhecimento, enquanto Manassés continuava: 

- Pondere a graça recebida, Silvério, e, depois de tomar-lhe a posse no plano físico, não volte aqui antes dos setenta. Trate de aproveitar a oportunidade. Todos os seus amigos esperam que você volte, mais tarde, à nossa colônia, na gloriosa condição de um «completista». 

O interpelado mostrou um raio de esperança nos olhos, agradeceu e despediu-se.  

As últimas observações de Manassés acenderam-me curiosidade mais forte. Não contive a indagação que me vagueava no pensamento e perguntei sem rebuços: 

- Meu amigo, que significa a palavra «completista»? 

Ele sorriu, complacente, e retrucou, bem-humorado: 

- É o título que designa os raros irmãos que aproveitaram todas as possibilidades construtivas que o corpo terrestre lhes oferecia. Em geral, quase todos nós, em regressando à esfera carnal, perdemos oportunidades muito importantes no desperdício das forças fisiológicas. Perambulamos por lá, fazendo alguma coisa de útil para nós e para outrem, mas, por vezes, desprezamos cinqüenta (sic!), sessenta, setenta per cento e, freqüentemente (sic!), até mais, de nossas possibilidades. Em muitas ocasiões, prevalece ainda, contra nós, a agravante de termos movimentado as energias sagradas da vida em atividades inferiores que degradam a inteligência e embrutecem o coração. Aqueles, porém, que mobilizam a máquina física, à maneira do operário fidelíssimo, conquistam direitos muito expressivos em nossos planos. O «completista», na qualidade de trabalhador leal e produtivo, pode escolher, à vontade, o corpo futuro, quando lhe apraz o regresso à Crosta em missões de amor e iluminação, ou recebe veículo enobrecido para o prosseguimento de suas tarefas, a caminho de círculos mais elevados de trabalho. 

Semelhante notícia representava para mim valiosa revelação. Nada mais legítimo que dotar o servidor fiel de recursos completos. E lembrei-me dos desregramentos de toda a sorte a que se entregam as criaturas humanas, em todos os países, doutrinas e situações, complicando os caminhos evolutivos, criando laços escravizantes, enraizando-se no apego aos quadros transitórios da existência material, alimentando enganos e fantasias, destruindo o corpo e envenenando a alma. Num transporte de justificada admiração, redargüi (sic!)

- Recordando o cativeiro dos Espíritos encarnados no plano da sensação, consola-nos saber que há um prêmio aos raríssimos homens que vivem na sublime arte do equilíbrio espiritual, mesmo na carne. 
- Sim - disse Manassés, aprovando-me com o olhar -, por mais estranho que possa parecer, semelhantes exceções existem no mundo. Passam, freqüentemente, para cá, entre os anônimos da Crosta, sem fichas de propaganda terrestre, mas com imenso lastro de espiritualidade superior. 

E dando-me a impressão de que desejava esclarecer-me, relativamente a ele mesmo, acrescentou: 

- Há muitos anos me esforço para conseguir a condição dos «completistas»; no entanto, até agora continuo em fase de preparação... 

Compreendi que Manassés, tanto quanto eu, trazia regular bagagem de recordações menos felizes, com respeito ao uso que fizera do corpo terreno nas experiências passadas e procurei modificar a orientação da palestra: 

- Sabe de algum «completista» que tenha regressado à Crosta? – interroguei. 
- Sim. 
- Naturalmente - continuei, curioso - terá escolhido um organismo irrepreensível. 

Meu novo companheiro mostrou significativa expressão fisionômica e acentuou: 

- Nenhum dos que tenho visto partir, embora os méritos de que se encontravam revestidos, escolheram formas irrepreensíveis, quanto às linhas exteriores. Solicitaram providências em favor da existência sadia, preocupando-se com a resistência, equilíbrio, durabilidade e fortaleza do instrumento que os deveria servir, mas pediram medidas tendentes a lhes atenuarem o magnetismo pessoal, em caráter provisório, evitando-se-lhes apresentação física muito primorosa, ocultando, assim, a beleza de suas almas para a eficiente garantia de suas tarefas. Assim procedem, porquanto, vivendo a maioria das criaturas no jogo das aparências, quando na Crosta Planetária, incumbir-se-iam elas próprias de esmagar os missionários do Bem, se lhes conhecessem a verdadeira condição, através das vibrações destruidoras da inveja, do despeito, da antipatia gratuita e das disputas injustificáveis. Em vista disso, os trabalhadores conscientes, na maioria das vezes, organizam seus trabalhos em moldes exteriores menos graciosos, fugindo, por antecipação, ao influxo das paixões devastadoras das almas em desequilíbrio. 

Entendi a extensão do esclarecimento e meditava na grandeza dos princípios espirituais que regem a experiência humana, quando Manassés acrescentou, após longa pausa: 

- As mentes juvenis, quais crianças do mundo, brincam com o fogo das emoções; todavia, os espíritos amadurecidos, mormente quando chegam à situação de «completistas», abandonam toda experiência que os possa distrair no caminho de realização da Vontade Divina. 

Em seguida, convidado pelo meu novo amigo, penetrei numa das dependências consagradas aos serviços de desenho. Pequenas telas, demonstrando peças do organismo humano, estavam ordenadamente em todos os recantos. Tinha a impressão fiel de que me encontrava num grande centro de anatomistas, cercados de auxiliares competentes e operosos. Espalhavam-se desenhos de membros, tecidos, glândulas, fibras, órgãos de todos os feitios e para todos os gostos. 

- Como sabe - observou Manassés, cuidadoso -, no serviço de recapitulação ou de tarefas especializadas na superfície do Globo, a reencarnação nunca pode ser vulgar. Para isso, trabalham aqui centenas de técnicos em questões de Embriologia e Biologia em geral, no sentido de orientar as experiências individuais do futuro de quantos irmãos se ligam a nós no esforço coletivo.

Sentindo espontânea veneração, contemplei os servidores que se inclinavam atenciosos, arquitetando o porvir de muitos companheiros. Como era complexa a oportunidade de renascer! Que atividades intensas exigiam dos benfeitores espirituais! Ao meu gesto de estranheza, respondeu Manassés numa síntese expressiva: 

- Você não ignora que os homens ainda selvagens ou semi-selvagens, embora utilizando os recursos sempre sagrados da Natureza, edificam suas habitações em moldes mais simples e rudimentares; todavia, o homem que já atingiu certo padrão de ideal, desenvolvendo faculdades superiores, Constrói o lar, organizando plantas prévias. 

Indicando o quadro interior, extremamente movimentado, acrescentou, sorridente: 

- Não estamos aqui senão cogitando, igualmente, de projetos para futuras habitações carnais. O corpo humano não deixa de ser a mais importante moradia para nós outros, quando compelidos à permanência na Crosta. Não podemos esquecer que o próprio Divino Mestre classificava-o como templo do Senhor. 

Impressionado, seguia atenciosamente os trabalhos em curso. Dispúnhamo-nos (sic!) a seguir adiante, quando uma irmã, de porte muito respeitável, se aproximou saudando Manassés afetuosamente. Ele respondeu com gentileza e apresentou-ma. 

- É nossa irmã Anacleta. 

Cumprimentei-a, sentindo-lhe a simpatia pessoal. 

- Trata-se de uma das nossas trabalhadoras mais corajosas - acentuou o funcionário do trabalho de informações. 

A senhora sorriu, algo contrafeita por se ver focalizada na opinião franca do companheiro. Todavia, Manassés, com o otimismo que lhe era característico, prosseguiu: 

- Imagine que voltará à Esfera do Globo, em breves dias, em tarefa de profunda abnegação por quatro entidades que, há mais de quarenta anos, se debatem em regiões abismais das zonas inferiores. 
- Não vejo nisso abnegação alguma - atalhou à senhora, sorrindo -, cumprirei tão somente um dever. 

E fixando-me, desassombrada e serena, asseverou: 

- As mães que não completaram a obra de amor que o Pai lhes confia junto dos filhos amados, devem ser bastante fortes para recomeçarem os serviços imperfeitos. Esse o meu caso. Não se deve mencionar sacrifício onde existe apenas obrigação. 

Interessava-me a história daquela irmã despretensiosa e simpática e, por isso mesmo, animei-me a perguntar-lhe: 

- Regressará, então, dentro em breve? De qualquer maneira, sua resolução traduz devotamento e bondade. Não posso esquecer que também minha mãe voltou ao círculo da carne, tangida por sublime dedicação. 

Notei que os olhos dela se encheram de lágrimas discretas, que não chegaram a cair, emocionada talvez com a minha observação sincera. Estendeu-me a destra, gentilmente, e, dando a idéia (sic!) de que não desejava continuar em conversação relativa ao assunto, disse-me, comovida: 

- Muito grata pelo conforto de suas palavras. Mais tarde, ao se lembrar de mim, ajude-me com o seu pensamento amigo. 

Nesse ponto da ligeira palestra, Manassés indagou: 

- Já recebeu todos os projetos? 
- Sim - respondeu ela -, não somente os que se referem aos meus pobres filhos, mas também a planta relativa à minha própria forma futura. 
- Está satisfeita? 
- Muitíssimo! - redargüiu a dama. - Na lei do Pai, a justiça está cheia de misericórdia e continuo na condição de grande devedora. 

Em seguida, despediu-se, calma e afável. 

Manassés compreendeu-me a curiosidade e explicou: 

- Anacleta é um exemplo vivo de ternura e devotamento, mas voltará às lutas do corpo a fim de operar determinadas retificações no coração materno. Por imprevidência dela, noutro tempo, os quatro filhos, que o Senhor lhe confiara, caíram desastradamente. A pobrezinha albergava certas noções de carinho que não se compadecem com a realidade. Seu esposo era homem probo e trabalhador e, apesar de abastado, nunca se esqueceu dos deveres que lhe prendiam as atividades de homem de bem ao campo da sociedade em geral. Caracterizava-se por uma energia sempre construtiva, mas a esposa, embora devotadíssima (sic!), contrariava-lhe a influência do lar, viciando o afeto de mãe com excessos de meiguice desarrazoada. E, como conseqüência (sic!) indireta, quatro almas não encontraram recursos para a jornada de redenção. Três rapazes e uma jovem, cuja preparação intelectual exigira os mais árduos sacrifícios, caíram muito cedo em desregramentos de natureza física e moral, a pretexto de atenderem a obrigações sociais. E tão degradantes foram esses desregramentos que perderam muito cedo o templo do corpo, entrando em regiões baixas, em tristes condições. Anacleta, contudo, voltando ao campo espiritual, compreendeu o problema e dispôs-se a trabalhar afanosamente para conseguir, não só a reencarnação de si própria, senão também a dos filhos que deverão segui-la nas provas purificadoras da Crosta. 
- Quantos anos gastaram para obter semelhante concessão? - perguntei, impressionado. 
- Mais de trinta. 
- Imagino-lhe os sacrifícios futuros! - exclamei. 
- Sim - esclareceu Manassés -, a experiência ser-lhe-á bem dura, porque dois dos rapazes deverão regressar na condição de paralíticos, um na qualidade de débil mental e, para auxiliá-la na viuvez precoce, terá tão somente a filha, que, por si mesma, será também portadora de prementes necessidades de retificação. 

Ia dizer de minha profunda surpresa, diante do mecanismo de introdução ao serviço reencarnacionista, quando outra irmã se acercou de nós, procurando por Manassés. 

Depois das saudações afetivas, explicou-se ela, gentil, dirigindo-se ao meu novo amigo: 

- Desejo sua obsequiosa interferência na retificação do meu plano. 

E abrindo pequeno mapa, onde se via desenhado com extrema perfeição um organismo de mulher, acentuou: 

- Veja bem o meu projeto para o sistema endocrínico. Sei que os amigos me favoreceram, planejando-o com muita harmonia nas menores disposições; entretanto, desejaria modificações... 
- Em que sentido? - indagou o interpelado, surpreso.   

A recém-chegada indicou os pontos do projeto onde se localizava o colo e falou:

- Fui advertida por benfeitores daqui, no sentido de não me apresentar na Crosta, dentro de linhas impecáveis para a forma física e, em razão disso, para que eu tenha mais probabilidades de êxito em meu favor, na tarefa que me proponho desempenhar, estimaria que a tireóide (sic!) e as paratireóides (sic!) não estivessem tão perfeitamente delineadas. Como sabe, Manassés, minha tarefa não será fácil. Devo reaver um patrimônio espiritual de grandes proporções. Preciso fugir de qualquer possibilidade de queda e a perfeita harmonia física me perturbaria as atividades. 

O novo companheiro endereçou-me expressivo olhar e disse-lhe: 

- Tem razão. A sedução carnal é imenso perigo, não só para aqueles que emitem a sua influenciação, como também para quantos a recebem. 
- Prefiro a fealdade corpórea - tornou ela. - Não estou interessada num corpo de Vênus e, sim, na redenção de meu espírito para a Eternidade. 

Manassés prometeu interpor os seus bons ofícios, e, tão logo se despediu da nova interlocutora, passou a mostrar-me as mais interessantes figurações de órgãos do corpo humano.  

Admirava, tomado de profunda impressão; aqueles gráficos numerosos que se alinhavam, com absoluta ordem, demonstrando o cuidado espiritual que precede o serviço de reencarnações, quando o meu amigo ponderou: 

- A medicina humana será muito diferente no futuro, quando a Ciência puder compreender a extensão e complexidade dos fatores mentais no campo das moléstias do corpo físico. Muito raramente não se encontram as afecções diretamente relacionadas com o psiquismo. Todos os órgãos são subordinados à ascendência moral. As preocupações excessivas com os sintomas patológicos aumentam as enfermidades; as grandes emoções po0dem curar o corpo ou aniquila-lo. Se isso pode acontecer na esfera de atividades vulgares das lutas físicas, imagine o campo enorme de observações que nos oferece o plano espiritual, para onde se transferem, todos os dias, milhares de almas desencarnadas, em lamentáveis condições de desequilíbrio da mente. O médico do porvir conhecerá semelhantes verdades e não circunscreverá sua ação profissional ao simples fornecimento de indicações técnicas, dirigindo-se, muito mais, nos trabalhos curativos, às providências espirituais, onde o amor cristão represente o maior papel. 

Desejando, porém, prosseguir nos esclarecimentos, quanto ao serviço reencarnacionista, Manassés tomou pequeno gráfico e, apresentando-me as linhas gerais, acentuou: 

- Aqui temos o projeto de futura reencarnação dum amigo meu. Não observa certos pontos escuros, desde o cólon descendente à alça sigmóide (sic!)? Isso indica que ele sofrerá uma úlcera de importância, nessa região, logo que chegue à maioridade física. Trata-se, porém, de escolha dele. 

E porque extrema curiosidade me vagueasse nos olhos, Manassés explicou: 

- Esse amigo, faz mais de cem anos, cometeu revoltante crime, assassinando um pobre homem: a facadas; logo que se entregou ao homicídio, como acontece muitas vezes, a vítima desencarnada ligou-se fortemente a ele, e da semente do crime, que o infeliz assassino plantou num momento, colheu resultados terríveis por muitos anos. Como não ignora, o ódio recíproco opera igualmente vigorosa imantação e a entidade, fora da carne, passou a vingar-se dele, todos os dias, matando-o devagarzinho, através de ataques sistemáticos pelo pensamento mortífero. Em suma, quando o homicida desencarnou, por sua vez, trazia o organismo perispiritual em dolorosas condições, além do remorso natural que a situação lhe impusera. Arrependeu-se do crime, sofreu muito nas regiões purgatoriais e, depois de largos padecimentos purificadores, aproximou-se da vítima, beneficiando-a em louváveis serviços de resgate e penitência. Cresceu moralmente, tornou-se amigo de muitos benfeitores, conquistou a simpatia de vários agrupamentos de nosso plano e obteve preciosas intercessões. Entretanto... A dívida permanece. O amor, contudo, transformou o caráter do trabalho de pagamento. O nosso amigo, ao voltar à Crosta, não precisará desencarnar em espetáculo sangrento, mas onde estiver, durante os tempos de cura completa, na carne que ele outrora menosprezou, carregará a própria ferida, conquistando, dia a dia, a necessária renovação. Experimentará desgostos, em virtude do sofrimento físico pertinaz, lutará incessantemente, desde a eclosão da úlcera até o dia do resgate final no aparelho fisiológico; entretanto, se souber manter-se fiel aos compromissos novos, terá atingido, mais tarde, a plena libertação. 

Enquanto fixava no projeto minha melhor atenção, Manassés continuava: 

- Segundo observamos, a justiça se cumpre sempre, mas, logo que se disponha o Espírito a precisa transformação no Senhor, atenua-se o rigorismo do processo redentor. O próprio Pedro nos lembrou, há muitos séculos, que «o amor cobre a multidão dos pecados». 

Examinei, impressionado, a planta educativa e. porque não encontrasse palavras bastante claras para pintar minha admiração, silenciei comovidamente. 

Compreendendo-me o estado d’alma, o companheiro continuou: 

- São inúmeros os projetos de corpos futuros em nossos setores de serviço. Depreende-se, da maioria deles, que todos os enfermos na carne são almas em trabalho da ingente conquista de si próprias. Ninguém trai a Vontade de Deus, nos processos evolutivos, sem graves tarefas de reparação, e todos os que tentam enganar a Natureza, quadro legítimo das leis divinas, acabam por enganar a si mesmos. A vida é uma sinfonia perfeita. Quando procuramos desafiná-la, no círculo das notas que devemos emitir para a sua máxima glorificação, somos compelidos a estacionar em pesado serviço de recomposição da harmonia quebrada. 

E, durante alguns dias, ali permaneci na instituição benemérita, compreendendo que a existência humana não é um ato acidental e que, no plano da ordem divina, a justiça exerce o seu ministério, todos os dias, obedecendo ao alto desígnio que manda ministrar os dons da vida «a cada um por suas obras».




13
Reencarnação

(...)



Ao se retirar, Alexandre, satisfeito, comentou paternalmente: 


- Com o auxílio de Jesus, a tarefa foi executada com êxito. 

E, fixando Segismundo, acrescentou: 


- Creio que na próxima semana poderá iniciar o seu serviço definitivo de reencarnação. Acompanhá-lo-emos com carinho. Não receie coisa alguma.

Enquanto Segismundo sorria, resignado e confiante, o orienta dor dirigiu-se a Herculano, explicando-se: 


- Já observei o gráfico referente ao organismo físico que o nosso amigo receberá de futuro, verificando, de perto, as imagens da moléstia do coração que ele sofrerá na idade madura, como conseqüência (sic!) da falta cometida no passado. Segismundo experimentará grandes perturbações dos nervos cardíacos, mormente os nervos do tônus. Entretanto - e nesse momento concentrou toda a sua atenção no interessado -, é necessário que você lhe faça ver que as provas de resgate legítimo inclinam a alma encarnada a situações periclitantes e difíceis na recapitulação das experiências; todavia, não obrigam a novas quedas espirituais, quando dispomos de verdadeira boa vontade no trabalho de elevação. O aprendiz aplicado pode ganhar muito 108 tempo e conquistar imensos valores se, de fato, procura conhecer as lições e pô-las em prática. A justiça divina nunca foi exercida sem amor. E quando a fidelidade sincera ao Senhor permanece viva no coração dos homens, há sempre lugar para o «acréscimo de misericórdia» a que se referia Jesus em seu apostolado. 

Em seguida, convidando-me a acompanhá-lo, Alexandre despediu-se dos demais, frisando: 


- Voltaremos a vê-los no dia da ligação inicial de Segismundo com a matéria física. Preciso cooperar, na ocasião, com os nossos amigos Construtores, aos quais pedi me apresentassem os mapas cromossômicos, referentemente aos serviços a serem encetados. 

Separamo-nos. 

E eu, torturado de curiosidade estranha, em vista daqueles cuidados extremos para que Adelino e Segismundo se reconciliassem, antes da reaproximação pelos laços da carne, não sopitei as interrogações que me atormentavam o espírito. Não seria licito providenciar a reencarnação do necessitado, sem quaisquer delongas? Porque tamanha demonstração de carinho para com o esposo de Raquel se ele deveria sentir-se satisfeito em poder cooperar na obra sublime de redenção? Não dispúnhamos de suficiente poder para quebrar todas as resistências? 

Alexandre ouviu-me, pacientemente, mostrou um sorriso de pai e respondeu: 


- Sua estranheza é natural. Não se habituou ainda aos trabalhos de socorro ou de organização neste lado da vida. 

E, depois de pequena pausa, considerou: 


- Cada homem, como cada Espírito, é um mundo por si mesmo e cada mente é como um céu... Do firmamento descem raios de sol e chuvas benéficas para a organização planetária, mas também, no instante do atrito de elementos atmosféricos, desse mesmo céu procedem as faíscas destruidoras. Assim, a mente humana. Dela se originam as forças equilibrantes e restauradoras para os trilhões de células do organismo físico; mas, quando perturbada, emite raios magnéticos de alto poder destrutivo para as comunidades celulares que a servem. O pensamento envenenado de Adelino destruía a substância da hereditariedade, intoxicando a cromatina dentro da própria bolsa seminal. Ele poderia atender aos apelos da Natureza, entregando-se à união sexual, mas não atingiria os objetivos sagrados da Criação, porque, pelas disposições lamentáveis de sua vida íntima, estava aniquilando as células criadoras, ao nascerem, e, quando não as aniquilasse por completo, intoxicava os genes do caráter, dificultando-nos a ação... Ora, no caso de Segismundo, unido a ele, em processo ativo de redenção, não podemos dispensar-Lhe o concurso amoroso e fraterno. Daí a necessidade desse trabalho intenso para despertar-lhe os valores afetivos. Somente o amor proporciona vida, alegria e equilíbrio. Modificado em sua posição íntima, Adelino emitirá doravante forças magnéticas protetoras dos elementos destinados ao serviço elevado da procriação. 

A palavra do orienta dor não podia ser mais lógica. Começava agora a compreender o sentido sublime do trabalho que se realizara para que o esposo de Raquel se fizesse mais humano e mais doce. Como não encontrasse expressões para definir meu assombro, Alexandre sorriu e acentuou, depois de longo intervalo: 


- Segundo pode observar, não existem por aqui milagres para o culto do menor esforço. E quando ensinamos, em toda parte, a necessidade da prática do amor, não procedemos obedientes a meros princípios de essência religiosa, mas atendendo a imperativos reais da própria vida. 

No curso de seus esclarecimentos, alusivos ao interessante caso de Segismundo, o bondoso instrutor ferira assuntos de grande relevância para mim. Mencionara a união sexual e designara o trabalho criador como seu objetivo sagrado. Não seria esse o momento oportuno de ouvi-lo, mais extensamente, respeito ao delicado assunto? Crivei-o de interrogações ansiosas. Alexandre não se mostrou surpreendido e ouviu-me as perguntas, com imperturbável serenidade. Quando me coloquei na atitude de expectativa, respondeu, amavelmente: 


- O sexo tem sido tão aviltado pela maioria dos homens reencarnados na Crosta que é muito difícil para nós outros, por enquanto, elucidar o raciocínio humano, com referência ao assunto. Basta dizer que a união sexual entre a maioria dos homens e mulheres terrestres se aproximam demasiadamente das manifestações dessa natureza entre os irracionais. No capítulo de relações dessa espécie, há muita inconsciência criminosa e indiferença sistemática às leis divinas. Desse plano não seria razoável qualquer comentário de nossa parte. Trata-se dum domínio de semibrutos, onde muitas inteligências admiráveis preferem demorar em baixas correntes evolutivas. É inegável que também aí funcionam as tarefas de abnegados construtores espirituais, que colaboram na formação básica dos corpos, destinados a servirem às entidades que reencarnam nesses círculos mais grosseiros. Entretanto, é preciso considerar que o serviço, em semelhante esfera, é levado a efeito em massa, com características de mecanismo primitivo. O amor, nesses planos mais baixos, é tal qual o ouro perdido em vasta quantidade de ganga, exigindo largo esforço e laboriosas experiências para revelar-se aos entendidos. Entre as criaturas, porém, que se encaminham, de fato, aos montes de elevação, a união sexual é muito diferente. Traduz a permuta sublime das energias perispirituais, simbolizando alimento divino para a inteligência e para o coração e força criadora não somente de filhos carnais, mas também de obras e realizações generosas da alma para a vida eterna. 

Alexandre fez ligeira pausa, sorriu paternalmente e continuou: 


- Lembre-se, André, de que me referi a objetivos sagrados da Criação e não exclusivamente ao trabalho procriador. A procriação é um dos serviços que podem ser realizados por aquele que ama, sem ser o objeto exclusivo das uniões. O Espírito que odeia ou que se coloca em posição negativa, diante da Lei de Deus, não pode criar vida superior em parte alguma. 

Compreendi que o problema era muito difícil de ser explanado, mas, como se quisesse desfazer todas as minhas dúvidas, o dedicado instrutor prosseguiu, após breve interrupção: 


- É necessário deslocar a concepção do sexo, abstendo-nos de situá-la tão-somente em determinados órgãos do corpo transitório das criaturas. Vejamos o sexo como qualidade positiva ou passiva, emissora ou receptora da alma. Chegados a esse entendimento, verificamos que toda manifestação sexual evolui com o ser. Enquanto nos mergulhamos no charco das vibrações pesadas e venenosas, experimentamos, nesse domínio, simplesmente sensações. À medida que nos dirigimos a caminho do equilíbrio, colhemos material de experiências proveitosas, oportunidades de retificação, força, 1conhecimento, alegria e poder. Em nos harmonizando com as leis supremas, encontramos a iluminação e a revelação, enquanto os Espíritos Superiores colhem os valores da Divindade. Substituamos as palavras «união sexual» por «união de qualidades» e observaremos que toda a vida universal se baseia nesse divino fenômeno, cuja causa reside no próprio Deus, Pai Criador de todas as coisas e de todos os seres. 

As palavras de Alexandre abriam-me novos horizontes ao pensamento. As questões obscuras do tema tornavam-se claras ao meu campo mental. Fazendo-me sentir que os intervalos da conversação se destinavam a fornecer-me tempo de meditar, o benevolente orientador continuou, depois de longa pausa: 


- Essa "união de qualidades", entre os astros, chama-se magnetismo planetário da atração, entre as almas denomina-se amor, entre os elementos químicos é conhecida por afinidade. Não seria possível, portanto, reduzir semelhante fundamento da vida universal, circunscrevendo-o a meras atividades de certos órgãos do aparelho físico. A paternidade ou a maternidade é tarefa sublime; não representam, porém, os únicos serviços divinos, no setor da Criação infinita. O apóstolo que produz no domínio da Virtude, da Ciência ou da Arte, vale-se dos mesmos princípios de troca, apenas com a diferença de planos, porque, para ele, a permuta de qualidades se verifica em esferas superiores. Há fecundações físicas e fecundações psíquicas. As primeiras exigem as disposições da forma, a fim de atenderem a exigências da vida, em caráter provisório, no campo das experiências necessárias. As segundas, porém, prescindem do cárcere de limitações e efetua-se nos resplandecentes domínios da alma, em processo maravilhoso de eternidade. Quando nos referimos ao amor do Onipotente, quando sentimos sede da Divindade, nossos espíritos não procuram outra coisa senão a troca de qualidades com as esferas sublimes do Universo, sequiosos do Eterno Princípio Fecundante... 

Alexandre fez longa pausa, como se ele mesmo permanecesse embevecido com semelhantes evocações. Por minha vez, achava-me deslumbrado. Nunca ouvira definições tão profundas, referentemente à posição do sexo na vida universal. 


- É lamentável - continuou o orientador, gravemente - que a maioria dos nossos irmãos encarnados na Crosta tenha menosprezado as faculdades criativas do sexo, desviando-as para o vórtice de prazeres inferiores. Todos pagarão, porém, ceitil por ceitil, o que devem ao altar santificado, através de cuja porta receberam a graça de trabalhar e aprender na superfície da Terra. Todo ato criador está cheio de sagradas comoções da Divindade e são essas comoções sublimes da participação da alma, nos poderes criadores da Natureza, que os homens conduzem, imprevidentemente, para a zona do abuso e da viciação. Tentam arrastar a luz para as trevas e convertem os atos sexuais, profundamente veneráveis em todas as suas características, numa paixão viciosa tão deplorável como a embriaguez ou a mania do ópio. Entretanto, André, sem que os olhos mortais Lhes observem as angústias retificadoras, todos os infelizes, em semelhantes despenhadeiros, são punidos severamente pela Natureza divina. 

A essa altura das luminosas elucidações, sentindo que o respeitável amigo entraria em nova pausa, ousei interrogar: 


- Mas não é o uso do sexo uma lei natural na esfera da Crosta? 

Alexandre sorriu com benevolência e respondeu: 


- Ninguém contesta esse caráter das manifestações sexuais nos círculos da carne, mas todas as leis naturais na experiência humana devem ser exercidas, como em toda parte, sobre as bases da lei universal do bem e da ordem. Quem foge ao bem, é defrontado pelo crime; quem foge à ordem, cai no desequilíbrio. As uniões sexuais, portanto, que se efetuem à distância desses sublimes imperativos, transformam-se em causas geradoras de sofrimento e perturbação. Ao demais, não devemos esquecer que o sexo, na existência humana, pode ser um dos instrumentos do amor, sem que o amor seja o sexo. Por isso mesmo, os homens e as mulheres, cuja alma se vai libertando dos cativeiros da forma física, escapam, gradativamente, do império absoluto das sensações carnais. Para eles, a união sexual orgânica vai deixando de ser uma imposição, porque aprendem a trocar os valores divinos da alma, entre si, alimentando-se reciprocamente, através de permutas magnéticas, não menos valiosas para os setores da Criação Infinita, gerando realizações espirituais para a eternidade gloriosa, sem qualquer exigência dos atritos celulares. Para esse gênero de criaturas, a união reconfortadora e sublime não se acha circunscrita à emotividade de alguns minutos, mas constitui a integração de alma com alma, através da vida inteira, no campo da Espiritualidade Superior. Diante dos fenômenos da presença física, bastam-lhes, na maioria das vezes, o olhar, a palavra, o simples gesto de carinho e compreensão, para que recebam o magnetismo criador do coração amado, impregnando-se de força e estimulo para as mais difíceis edificações. 

Imprimiu Alexandre pequeno intervalo à palestra e, em seguida, abanando a cabeça, significativamente, observou: 


- Não há criação sem fecundação. As formas físicas descendem das uniões físicas. As construções espirituais procedem das uniões espirituais. A obra do Universo é filha de Deus. O sexo, portanto, como qualidade positiva ou passiva dos princípios e dos seres, é manifestação cósmica em todos os círculos evolutivos, até que venhamos a atingir o campo da Harmonia Perfeita, onde essas qualidades se equilibram no seio da Divindade. 

Não ousei quebrar o silêncio que se seguiu. O venerando instrutor, engolfado em profundos pensamentos, não mais voltou ao assunto, compelindo-me, talvez, a meditações mais edificantes. 

Esperei, ansioso, o instante de tornar às observações do caso Segismundo. O estudo que encetara era verdadeiramente fascinador. Foi por isso, com justificada alegria, que recebi o convite de Alexandre para o regresso ao lar de Adelino. O bondoso orientador alegava que era preciso visitar o casal e o amigo em processo reencarnacionista, na véspera da primeira ligação com a matéria orgânica. 

Chegados à moradia nossa conhecida, encontramos Herculano e Segismundo em companhia de outras entidades. Alexandre informou-me tratar-se de Espíritos construtores, que iam cooperar na formação fetal do nosso amigo.



(...)




Os intervalos transcritos acima são pertencentes a edição antiga,  e portanto, têm a obediência às Normas Gramaticais da época, e sendo assim, anteriores às normas atuais vigentes, e possivelmente constantes nas edições atualizadas da série André Luiz.

Capítulos extraídos do livro "Missionários da Luz", ditado pelo espírito André Luiz. Psicografado pelo médium Francisco Cândido Xavier.














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